A mandioca pertence ao grupo de plantas cianogênicas, que é uma substância que contêm como princípio ativo o ácido cianídrico (HCN), um líquido incolor, muito volátil, sendo considerado como uma das substâncias mais tóxicas que existe.
Quando o ácido cianídrico se liga a carboidratos glicosídeos cianogênicos ocorre a hidrólise – processo químico que envolve a quebra de uma molécula em contato com a água.
Alguns pesquisadores já comprovaram que alguns glicosídeos, chamados de linamarina e lotaustralina, assim que acontece a ruptura da estrutura celular da raiz, logo que entram em contato com as enzimas presentes (linamarase) degradam estes compostos e acabam liberando ácido cianídrico, que é o princípio tóxico da mandioca.
A ingestão ou até mesmo a inalação, é um sério perigo à saúde, causando envenenamento.
Em 2002 foram avaliadas 26 variedades de mandioca aos 8, 10 e 12 meses após o plantio com o objetivo de encontrar novas variedades para o consumo humano que fossem na forma de raízes frescas.
Concluíram as pesquisas que 81% das variedades possuíam teores de cianeto dentro dos limites aceitáveis.
Em 2003, pesquisadores alegaram que o envenenamento por cianeto ocorrem nas regiões em que a mandioca é a alimentação básica da população, sendo que a desnutrição também é fator presente.
Afinal, a Mandioca Brava é Venenosa?
Todas as partes da mandioca brava, tal como muitos outros tubérculos, grãos e frutas apresentam graus diferentes de toxicidade, variando apenas no teor do princípio ativo, ou seja, a quantidade de veneno.
Com relação à mandioca, a intoxicação mais comum acontece por ingestão da raiz ou devido às folhas mal preparadas ou cruas.
Após o processo de cozimento ou torrado a mandioca brava já não oferece mais perigo, pois o ácido cianídrico é destruído quando cozido ou torrado.
Sintomas do Envenenamento pela Mandioca Brava
A pessoa acometida por envenenamento por cianeto proveniente da mandioca brava apresentará sintomas muito diversos, como neurológicos, circulatórios, respiratórios.
Passamos a citá-los abaixo:
- náuseas,
- vômitos,
- cólicas abdominais
- diarréia,
- sonolência
- irritação da mucosa oral,
- faringe e vias aéreas superiores associadas à salivação intensa e hálito de odor de tucupi
Os distúrbios neurológicos podem aparecer como:
- torpor (turvação da consciência),
- coma,
- convulsões tônicas (todos os músculos dos membros superiores e inferiores, além do tronco endurecem e se contraem e o rosto parece adquirir um tom azulado ou cianótico)
- opistótono (acomete toda a coluna vertebral, provocando uma curvatura côncova para trás),
- contratura dos masseteres (a mandíbula se contrai de forma dolorosa),
- midríase (pupila dilatada).
Distúrbios respiratórios são importantes e freqüentes, tais como:
- dispnéia e acúmulo de secreções (dificuldade para respirar ou falta de ar, o que pode provocar o acúmulo de secreção já citado),
- asfixia com bradipnéia (asfixia causada por respiração lenta)
- apneia (a pessoa para de respirar momentaneamente),
- cianose (a pele adquire uma cor azulada)
Distúrbios circulatórios com:
- alteração do ritmo
- hipotensão (pressão arterial menor que a normal).
- Intoxicações graves podem levar a óbito.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) manifestou-se a respeito do crescente número de mortes por envenenamento e pessoas envenenadas por plantas, entre elas, a mandioca brava.
Se a pessoa for rapidamente socorrida, ela pode ser medicada adequadamente e voltar à vida normal.
Tratamento para Envenenamento por Mandioca Brava
Geralmente os animais que se alimentam das folhas da mandioca brava são encontrados mortos devido à rapidez com que o veneno age. A boa notícia é que a intoxicação cianídrica tem tratamento específico e a cura ocorre rapidamente.
O paciente recebe tratamento com solução aquosa de tiossulfato de sódio, por via endovenosa, pois o medicamento funciona como um antídoto. Deve ser feito também, lavagem gástrica após a melhora das condições físicas do paciente.
As funções vitais devem ser averiguadas com cuidado e ao longo dos dias. Promover tratamento complementar, mantendo as condições respiratórias e cardíacas. As convulsões devem ser tratadas e combatidas com diazepínicos.
Diferenças entre Mandioca Brava e Mandioca Mansa
Apesar da popularidade do nome, a mandioca deveria ser chamada de macaxeira ou aipim, isso de acordo com cada região. A mandioca brava não é vendida nas feiras, pois ela não é comestível justamente por ser venenosa. A mandioca que comemos e mandioca mansa.
Não é difícil ver as diferenças entre a mandioca brava e a mandioca mansa: a maniva ou caule da mandioca-brava é verde, enquanto que o da mandioca mansa é um rosa meio avermelhado.
As pessoas mais próximas da mandioca brava são os índios e foram eles que descobriram que ao cozinhar a mandioca, o ácido cianídrico evapora por ser altamente volátil. Com a prática da torrefação é possível conseguir a farinha de mandioca e com a fermentação e fervura prolongada é fácil chegar ao tucupi.
Os indígenas aprenderam a tratar a mandioca brava de tal forma que ela é aproveitada por completo, fazendo, inclusive, a maniçoba, que é preparada com a folha da mandioca.
Apenas para não ficar no ar, não é todo mundo ou todo brasileiro que conhece a maniçoba. Então, vamos lá:
Maniçoba é a feijoada-paraense, um prato típico da culinária brasileira e de origem indígena.
É preparada com folhas de mandioca, previamente moídas e cozidas, por aproximadamente 1 semana para que seja retirado todo o veneno. Após esse processo deve ser acrescentada carne de porco e outros ingredientes que devem ser defumados.
O interessante nessa feijoada é que ela não é feita de feijão!
Bibliografia
LOPES, Angela Cristina. Intoxicações e envenenamentos. Disponível em <https://www.hospvirt.org.br/enfermagem/port/enfintox.htm> Acesso em 16 ago. 2018, às 20:46
CHISTÉ, Renan Campos [et al.]. Quantificação de cianeto total nas etapas de processamento das farinhas de mandioca dos grupos seca e d’água. Disponível em <https://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/21477> Acesso em 16 ago. 2018, às 20:58
Saudações! Pergunta: alem de ter que ser bem cozida para neutralizar o acido cianídrico, temos que retirar a casca grossa também ou simplesmente raspar a pele é suficiente? Obrigado.