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Ilha das Cobras Queimada Grande

A Ilha das cobras Queimada Grande é um rico trecho de Mata Atlântica incrustado em uma região a 31 km do litoral do estado de São Paulo, mais especificamente, na cidade de Itanhém.

São cerca de 428.000 km2 de um bioma com características selvagens, inabitado, sem água potável, cais de embarque, ou qualquer outra estrutura capaz de atender, adequadamente, as necessidades humanas.

Por isso mesmo, é utilizada apenas pela Marinha (para a manutenção de um farol instalado na ilha) e por pesquisadores, especialmente para estudos sobre as espécies de ofídios que habitam o local.

Na verdade, o seu nome é cercado por várias lendas. A primeira delas tem a ver com o fato de o lugar ser conhecido pela quantidade impressionante de raios, que, não raras vezes, causam grandes incêndios na vegetação.

A segunda diz que, no passado, os pescadores costumavam incendiar grandes extensões de mata, a fim de afugentar as cobras.

Era uma população aterrorizante, com várias espécies diferentes, mas, principalmente, o lar da famigerada Jararaca-ilhoa ou Bothrops insularis — uma das serpentes mais venenosas do continente americano, e que, na ilha, encontrou as condições ideais para abrigar-se e desenvolver certas características particulares.

A ilha das cobras Queimada Grande há muito tem se tornado um dos pontos mais exóticos entre as cidades de Peruíbe e Intanhém, a mais ou menos 35 km do litoral sul de São Paulo.

Centenas de Cobras na Ilha da Queimada Grande
Centenas de Cobras na Ilha da Queimada Grande

Um desafio para pesquisadores e cientistas que, juntamente com militares, possuem autorização para visitar essa região com uma população de alguns milhares de serpentes — algumas delas com um potencial de agressividade bastante considerável.

A Ilha das Cobras Queimada Grande

O “pior lugar do mundo para se visitar”, de acordo com uma pesquisa realizada em 2010, pela revista britânica Listverse, é um verdadeiro ambiente selvagem!

Trata-se de um trecho vigoroso de Mata Atlântica, que exige coragem de quem quer que pretenda aventurar-se pelo seu interior.

Botas de cano longo, atenção por onde pisa ou toca, entre outros cuidados, são sugeridos como uma espécie de mantra antes da aventura por essas paragens.

Os visitantes ainda são recebidos por uma fauna composta por uma nuvem de mosquitos, formigas bastante agressivas, algumas espécies de tarântulas e lagartos venenosos, que deixam os visitantes sem saberem, ao certo, de quais espécies deverão proteger-se prioritariamente.

Tal é a singularidade da ilha, que os estudiosos descobriram que a jararaca-ilhoa desenvolveu características próprias, que a diferenciam das suas parentes que habitam o continente.

E elas refletem-se em uma menor agressividade, menor quantidade de peçonha, características particulares quanto à reprodução, alimentação restrita a aves (devido à ausência quase total de pequenos mamíferos), dentes menores, cabeças maiores, entre outras particularidades que a influência de um ambiente tão diverso ajudou a moldar nessas espécies.

A Bothrops Insularis

Em 1921, o herpetólogo paraense Afrânio do Amaral descreveu, pela primeira vez, as características da curiosíssima Bothrops insularis. Os seus estudos abriram caminho para que uma série de outros pesquisadores, a partir de então, iniciassem os seus próprios projetos.

O que eles descobriram foi algo surpreendente! Em primeiro lugar, o fato de que essa variedade da espécie Bhotrops só pode ser encontrada na Ilha das cobras Queimada Grande. E um dos motivos é justamente o fato de não existirem predadores que ameacem a sua sobrevivência.

Também descobriram que a ilha é a região do Brasil com o maior número de serpentes venenosas por m2. Estima-se que entre 3.000 e 5.000 cobras habitem a região!

E alguns depoimentos até impressionam! O que se diz, por exemplo, é que em apenas um dia é possível cruzar com mais de 50 dessas coisinhas assustadoras — Um verdadeiro desafio para aqueles que, como a maioria das pessoas normais, não sentem-se à vontade com as suas companhias.

Entre as características que as diferenciam das suas parentes do continente, está o fato de serem mais afeitas às copas das árvores, especialmente os galhos e ramos mais próximos ao chão.

Elas também apresentam uma sugestiva cor amarelo-ouro que, em contraste com o verde da mata, forma uma espécie de pintura natural, desenhada magicamente por algum grande artista.

Em busca de novidades sobre a famosa Ilha das cobras Queimada Grande, diversas espécies da flora e fauna foram coletadas e, graças ao seus registros, implantes de chips, pesagens, medições do comprimento, entre outras providências, tem sido possível, com precisão científica, acompanhar a evolução dessa espécie ao longo dos anos.

O Risco de Extinção

Foi-se o tempo em que a Ilha das cobras Queimada Grande era um território só de propriedade dos seres que a habitavam. No passado, as incursões à ilha limitavam-se a aventureiros, pescadores, além da presença mítica do faroleiro que, juntamente com a sua família, era o responsável por manter o importante equipamento de sinalização.

Manutenção do Farol da Ilha da Queimada Grande
Manutenção do Farol da Ilha da Queimada Grande

As únicas preocupações eram mesmo com as “donas da casa”, as jararacas-ilhoas, que exigiam dos pescadores o hábito constante de atear fogo nos arredores e manter sinalizações constantes sobre os perigos do lugar, a fim de evitar surpresas.

Agora as preocupações são outras! Um intenso comércios de serpentes vem comprometendo, seriamente, a existência dessas espécies no futuro.

O problema é a característica de raridade das Bothrops insularis, que faz com que um exemplar alcance valores astronômicos no mercado europeu — em torno de U$ 20.000,00 dólares cada exemplar.

O resultado são incursões cada dia mais intensas, e difíceis de serem fiscalizadas, para a captura de espécies para a venda, especialmente na Europa.

Bothrops Insularis Enrolada
Bothrops Insularis Enrolada

Com isso, a Ilha das cobras de Queimada Grande, uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), com projeto de se tornar um Parque Nacional Marinho, sofre com a ameaça constante do comércio irresponsável dessas espécies nativas.

E enquanto as fiscalizações não puderem ser intensificadas, o que resta mesmo é manter a política que até agora tem sido a mais eficiente: limitar o desembarque na ilha apenas a estudiosos e militares, com vistas a proteger esse importante patrimônio ecológico nacional.

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